Entrevista realizada para o jornalista Renato Acha. Para ler no site, clique aqui.
Acha – Qual a identidade de sua poética?
Patrícia Del Rey – “Os homens vêem a sexualidade no meu texto, a mulher a identificação, a dor. O poeta coloca uma lente de aumento na realidade. A poesia está em toda parte, no ipê no meio do eixão, mas poeta vai lá e escreve: ‘aqui, as flores nascem do concreto!’ - e as pessoas acham isso lindo, é simples. Tá ali, todo mundo vê, mas é preciso escrever para que as pessoas lembrem da poesia. Entende? Daí falo desta relação entre linguagens, no fundo temos sons imagens e cores mas a palavra os torna viventes”.
Acha – Fale mais sobre o olhar feminino e o masculino sobre sua obra.
Patrícia Del Rey – “A coisa da diferença das mulheres e dos homens é o seguinte: Fiz um conto erótico de uma mulher que se relaciona com um homem casado pela internet, uma coisa boba, de web cam, sabe. A ideia era trazer a internet pro texto e por no blog, trabalhar o imaginário das pessoas. Não tem verdade ali, assim, na prática. Mas tem toda verdade do mundo, porque tá escrito, e muitas pessoas já fizeram, mas é uma mulher apaixonada por um homem casado. Quando o publico feminino lê, sente a dor. Está ali, antes do sexo. O homem fica de pau duro. Eles se tornam aqueles personagens e o poeta tem a função de sensibilizar o outro. É como o ator, o artista. As pessoas querem sentir é isto”.
Acha – Como foi a compilação do material para integrar o livro?
Patrícia Del Rey – “Fechei o livro com 80 páginas e tive um grande amigo, que agiu como meu guru, o Henrique Rocha. Ele me ajudou a escolher e montar. Teve uma hora que eu pirei! Difícil tarefa, porque somos muito repetitivos, tanto na vida quanto nos textos. E tem textos de 2007. Aí você lê e fala: Quem era essa pessoa que escreveu isso? Eu não sou mais essa, e você vê a qualidade e corta, reescreve, pensa de novo. A gente muda e não se enxerga mais o mesmo, como no teatro. Algo efêmero, mutável. Você estreia e vai mudando, sedenta pela vida, pela arte e pelo amor. Na literatura você não tem a oportunidade de mudar. Porque você imprime né? Um blog, você deleta. Um livro não, ele perdura, ele marca um tempo. As poesias já não são mais suas. São do outro, daquele que lê”.
Acha – O tempo também é leitor.
Patrícia Del Rey – “Eu não vou ler o livro. Só daqui a dois anos. Brasília é um papel em branco, há muito espaço para o novo, para a poesia, para a arte. A gente pode escolher as letras, pois tem espaço para todos. Eu amo Brasília!”
Acha – Você nasceu aqui?
Patrícia Del Rey – “Não, sou baiana, mas me considero candanga. Somando indas e vindas tenho 20 anos de Brasília. A cidade tem 50. Acho que faço parte da geração dos novos candangos”.
Acha – Muito bem vinda!
Patrícia Del Rey – “A gente escolheu construir a cidade, porque temos uma função social importante aqui”.
Acha – Adotou a cidade e incorporou sua forte personalidade.
Patrícia Del Rey – “Sim. Criar o sotaque”.
Acha – Adorei ouvir isso!
Patrícia Del Rey – “Com certeza. A gente não anda na rua em Brasília, só de carro. Você não gosta disso? Mude! Mude a cidade. Você é a cidade. A rua é sua”.